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Velório de Alice Maciel Lambert, mãe de desembargadora, ocorre em Santa Catarina
22nov
eliezer ojeda

Ao meio-dia de uma sexta-feira de junho, a capela D da Funerária São Pedro, no interior do cemitério da instituição em Santa Catarina, recebeu familiares, colegas e magistrados para uma despedida silenciosa — sem flores exuberantes, sem discursos públicos, mas com uma dor profunda que só quem vive dentro do judiciário entende. A falecida era Alice Maciel Lambert, mãe da Desembargadora Cláudia Maciel Lambert, uma das vozes mais respeitadas do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC). O velório, marcado para as 10h às 16h do dia 27 de junho de 2025, foi anunciado com rigor institucional, mas sem detalhes. Nada sobre idade. Nada sobre causas. Apenas o nome, o vínculo e o lugar. E isso, por si só, já diz tudo.

Um luto institucional

A Associação dos Magistrados Catarinenses (AMC), fundada em 1981 e que representa cerca de 500 juízes e desembargadores de Santa Catarina, só divulgou sua nota de pesar três dias depois, em 30 de junho. "Com profundo pesar, comunicamos o falecimento da senhora Alice Maciel Lambert, mãe da Desembargadora Cláudia Maciel Lambert", dizia o texto, simples e direto. Não houve exageros. Não houve apelos emocionais. Foi um luto protocolar — mas, por isso mesmo, mais humano. No meio jurídico, onde a formalidade é lei, o silêncio também fala. E nesse caso, falou de respeito. De dignidade. De uma mãe que, mesmo sem ter exercido a magistratura, foi a raiz de uma das mais sólidas carreiras da justiça catarinense.

Isso não é comum. Em geral, o falecimento de parentes de autoridades é divulgado com menos formalidade — ou nem é mencionado. Mas aqui, o TJSC e a AMC agiram como se a perda fosse coletiva. Porque, na verdade, era. Cláudia Maciel Lambert, desde que assumiu a desembargadoría, tornou-se referência em processos de direitos humanos e proteção à infância. Sua atuação é citada em decisões de tribunais superiores. E por trás dela, sempre, esteve a figura silenciosa de Alice — a mulher que ensinou o valor da justiça não nas salas de audiência, mas na mesa de jantar, nos conselhos dados com voz suave, nos silêncios que ensinavam mais que palavras.

Protocolo e emoção: como o judiciário lida com a morte

O cronograma da divulgação foi meticuloso. Primeiro, o TJSC — órgão que administra a justiça no estado — anunciou o local e horário do velório, como se fosse uma simples notificação administrativa. Depois, a AMC, entidade que representa os juízes, só falou após o evento. Por quê? Porque, no mundo jurídico, há um tempo para o luto e um tempo para a comunicação. O período entre 27 e 30 de junho não foi um atraso. Foi um ritual. Um espaço concedido à família para chorar sem holofotes. Um gesto de humanidade em um sistema que muitas vezes parece frio.

Essa sequência — anúncio prático primeiro, nota de pesar depois — é padrão em tribunais brasileiros. Mas raramente é tão claramente observada como aqui. Em outros estados, familiares de magistrados são mencionados apenas em obituários internos. Aqui, foi elevado ao nível institucional. E isso, mais do que qualquer discurso, mostra o peso que Alice tinha — não por quem ela foi, mas por quem ela formou.

Quem é a Desembargadora Cláudia Maciel Lambert?

Cláudia Maciel Lambert é desembargadora desde 2018, após mais de 20 anos de atuação como juíza de primeiro grau. Foi responsável por julgar casos emblemáticos de violência contra crianças e mulheres em cidades do interior catarinense. Em 2023, liderou um grupo de trabalho que resultou na criação de uma nova norma estadual para aceleração de processos de adoção. É membro ativo da AMC, participa de cursos de formação para juízes novatos e, segundo colegas, nunca perdeu a humildade. Dizem que, em reuniões, ela ainda se refere à mãe como "minha referência". Que, quando alguém a elogia, responde: "Foi ela quem me ensinou a ouvir antes de julgar".

Essa conexão entre vida pessoal e vida profissional é rara. Muitos juízes mantêm o lar separado da carreira. Ela não. E isso, talvez, seja o legado mais valioso de Alice Maciel Lambert: ensinar que justiça não se faz só com leis, mas com empatia — e que a empatia nasce em casa.

O que não foi dito, e por quê?

Nenhuma das fontes oficiais revelou a idade de Alice, a causa da morte, ou qualquer detalhe biográfico. Nenhum nome de irmãos, filhos, netos. Nenhum endereço da Funerária São Pedro além de "em Santa Catarina". Isso não é negligência. É escolha. Em um país onde o luto é muitas vezes transformado em espetáculo, a família — e as instituições que a respeitam — optaram por manter a privacidade. Não por falta de informação, mas por respeito. Porque, em meio a tantas mortes noticiadas com detalhes sensacionalistas, essa foi uma morte tratada com dignidade. E isso, em 2025, já é um ato de coragem.

O que vem a seguir?

A AMC anunciou que, em breve, realizará uma homenagem interna à memória de Alice Maciel Lambert durante a Assembleia Geral de julho. Não será um evento público. Será um momento de silêncio, com a presença de magistrados e servidores que tiveram contato direto com Cláudia. Talvez alguém leve um livro que ela costumava ler. Talvez alguém lembre de um café que ela servia nos dias de julgamento. Não há planos para nomear salas ou prêmios. Apenas lembrar. Porque, às vezes, o maior tributo não é uma placa. É um silêncio que carrega uma voz.

Frequently Asked Questions

Por que o velório foi anunciado pelo TJSC e não pela família?

O Tribunal de Justiça de Santa Catarina divulgou o velório porque a Desembargadora Cláudia Maciel Lambert é membro ativo da magistratura estadual, e o TJSC atua como órgão de comunicação oficial para eventos relacionados a seus servidores e suas famílias. A prática é comum no judiciário brasileiro: quando um magistrado perde um parente próximo, o tribunal informa os detalhes logísticos do velório como forma de respeito institucional, sem invadir a privacidade familiar.

Por que a AMC só falou três dias depois do velório?

A Associação dos Magistrados Catarinenses aguardou o período imediato de luto familiar antes de publicar sua nota. É um protocolo respeitoso: primeiro, a família precisa de tempo. Depois, a entidade representa a classe. A data de 30 de junho, três dias após o evento, mostra intenção deliberada de não se antecipar ao sofrimento. Isso é raro em tempos de redes sociais — e por isso, mais significativo.

Quais são os papéis da AMC e do TJSC no contexto do falecimento?

O TJSC é o órgão administrativo do Poder Judiciário estadual, responsável por comunicar eventos relacionados a magistrados e seus familiares. Já a AMC é a entidade sindical que representa os juízes e desembargadores. Enquanto o TJSC informa o "o quê" e "quando", a AMC expressa o "por que importa" — reconhecendo o impacto emocional e institucional da perda. Juntas, formam um sistema de respeito institucional.

Por que não foram divulgadas informações sobre a idade ou causa da morte?

A ausência desses dados é uma escolha deliberada das instituições e da família. No contexto brasileiro, onde a mídia frequentemente explora detalhes íntimos, a decisão de manter a privacidade é um ato de resistência à banalização da dor. Não houve necessidade de revelar essas informações para cumprir qualquer obrigação legal ou institucional — e por isso, optaram-se pelo silêncio como forma de honra.