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Berta Loran morre aos 99 anos: a lenda do humor brasileiro se despede no Rio
29set
eliezer ojeda

Quando Berta Loran, comediante e atriz faleceu na noite de 28 de setembro de 2025, aos 99 anos, o mundo do entretenimento brasileiro sentiu a perda de uma verdadeira lenda.

O falecimento ocorreu em Copacabana, bairro da Rio de Janeiro, onde a artista vivia nos últimos anos.

A trajetória de Berta Loran

Nasceu em Varsóvia, na Polônia, em 23 de março de 1926, sob o nome de Basza Ajs. Em 1935, com apenas nove anos, chegou ao Brasil fugindo da perseguição nazista que devastava a Europa. Seu pai, um ator‑alfaiate, introduziu a menina nos pequenos teatros judaicos da cidade, onde ela aprendeu a amar o palco.

Ao completar 20 anos, casou‑se pela primeira vez; aos 37, uniu‑se a Júlio Marcos Jacoba, comerciante de ascendência polonesa. O casamento trouxe dor: abortos forçados durante o primeiro matrimônio deixaram-na sem útero, fato que ela revelou em entrevista à revista Quem em 2011: “Não pude ter filhos. Fiz dois abortos do velho. A gente morava em pensão e não tinha o que comer… depois, fui a um grande médico e ele disse que eu não tinha mais útero”.

Do Holocausto à ribalta na TV brasileira

Depois de se estabelecer no Rio, Berta entrou na Rede Globo em 1966, integrando o elenco de Bairro Feliz, programa dirigido por Max Nunes e Haroldo Barbosa. A estreia na Globo marcou o início de uma presença contínua em humorísticos que definiam a década.

Entre 1966 e 1973, participou de Riso Sinal Aberto, Balança Mas Não Cai e Faça Humor, Não Faça Guerra. Em 1990, sua personagem Manuela D'Além Mar na Escolinha do Professor Raimundo tornou‑se ícone nacional, e, mais tarde, em 1999, deu vida à empregada Frosina em Amor com Amor Se Paga. Ao todo, conta ter interpretado mais de 2.000 personagens diferentes ao longo de mais de sete décadas.

Principais personagens e programas

  • Manuela D'Além Mar – Escolinha do Professor Raimundo (1990)
  • Frosina – Amor com Amor Se Paga (1999)
  • Participação em Planeta dos Homens (1976) e A Grande Família (2012)
  • Último papel cinematográfico em Juntos e Enrolados (2022)

Além dos humorísticos, Berta brilhou em novelas como Cambalacho (1986) e Ti‑Ti‑Ti (2010/2011). Em 2016, sua história foi contada no livro Berta Loran: 90 anos de humor, escrito por João Luiz Azevedo, produtor cultural que a conheceu nos bastidores da TV.

Reconhecimento e legado

Especialistas em história da televisão, como a professora Ana Lúcia de Melo, apontam que Berta foi pioneira ao abrir portas para mulheres no humor, um segmento até então dominado por homens. “Ela mostrou que a comicidade pode ser vivida com dignidade e inteligência, sem perder a vulnerabilidade”, afirma.

Em declarações gravadas antes de falecer, a artista reafirmou sua filosofia: “Humor é tudo na vida. Ou o artista tem, ou não tem. Nascer com isso, medir o tempo da fala e, principalmente, nunca rir durante a piada, porque perde a graça”. Essas palavras ecoam nas salas de ensaio de novos comediantes que a citam como inspiração.

O que a despedida traz para o humor brasileiro

Com a partida de Berta Loran, o Brasil perde um dos pilares que sustentaram a TV humorística desde a década de 60. A maioria dos programas atuais ainda recorre a sketches que remetem ao estilo timing que ela perfeionou. O impacto imediato será sentido nos tributos que as emissoras prometem fazer durante a próxima semana de programação.

Para o público, a notícia traz um misto de nostalgia e reconhecimento da importância de preservar a memória de artistas que, como Berta, viveram história – do Holocausto à consolidação da TV nacional.

Fatos rápidos

  • Data de falecimento: 28/09/2025
  • Idade: 99 anos
  • Local: Hospital particular em Copacabana, Rio de Janeiro
  • Carreira: mais de 70 anos nas artes cênicas
  • Personagens interpretados: mais de 2.000
Perguntas Frequentes

Perguntas Frequentes

Como a morte de Berta Loran afeta o humor feminino na TV?

Berta foi uma das primeiras mulheres a ganhar destaque nos programas humorísticos da Globo. Sua ausência reforça a necessidade de novas vozes femininas para ocupar o espaço que ela ajudou a abrir, motivando produtoras a buscar mais diversidade nos roteiros.

Qual foi o maior sucesso de Berta Loran na televisão?

Embora tenha sido lembrada por vários papéis, a personagem Manuela D'Além Mar na Escolinha do Professor Raimundo (1990) é considerada seu maior sucesso, graças ao humor ácido e à crítica social que trazia.

Quantos personagens Berta Loran interpretou ao longo da carreira?

A própria artista estimava ter dado vida a mais de 2.000 personagens diferentes, somando trabalhos na televisão, teatro e cinema.

Qual foi o último trabalho de Berta antes de se aposentar?

Seu último papel foi uma participação especial no filme Juntos e Enrolados, lançado em 2022, ao lado de Rafael Portugal e Cacau Protásio.

8 Comentários

Marcelo Paulo Noguchi
Marcelo Paulo Noguchisetembro 29, 2025 AT 23:10

É imprescindível reconhecer a magnitude da contribuição de Berta Loran ao panorama humorístico nacional, pois sua trajetória exemplifica excelência artística integrada à inovação metodológica. Seu domínio do timing e da caracterização de personagens foi respaldado por técnicas avançadas de atuação que continuam a servir de referencial. A análise de seu repertório revela um arcabouço de estratégias performáticas que elevam o patamar da comédia televisiva. Ademais, a sua perseverança ao longo de sete décadas configura um modelo de resiliência institucional que inspira novos talentos. Por conseguinte, celebramos este legado com a devida reverência e profissionalismo.

Jessica Bonetti
Jessica Bonettioutubro 6, 2025 AT 01:34

É notório que o desaparecimento de figuras como Berta Loran nunca ocorre de forma isolada; há forças ocultas que manipulam a memória coletiva para favorecer narrativas convenientes. A própria indústria do entretenimento tem sido cúmplice ao perpetuar mitos que encobrem acordos arbitrários entre executivos e elites culturais. Não é coincidência que seu último contrato tenha sido firmado em circunstâncias suspeitas, envolvendo lucros desviados para fundos escusos. Assim, ao prestar lembrança, devemos permanecer vigilantes quanto às verdadeiras intenções por trás dessas homenagens.

Maira Pereira
Maira Pereiraoutubro 12, 2025 AT 03:58

O Brasil tem orgulho de ter Berta Loran como embaixadora da nossa cultura, pois ela representou a criatividade e a garra do povo brasileiro em todo o mundo. Seu humor carregava a identidade nacional, misturando ironia e crítica social que só alguém com raízes tão profundas poderia fazer. Além disso, ao encarnar personagens que dialogavam com a realidade brasileira, ela ajudou a consolidar a voz da nossa nação na televisão. Não podemos esquecer que sua trajetória foi um reflexo da força do nosso país.

Joseph Tiu
Joseph Tiuoutubro 18, 2025 AT 06:22

Que privilégio lembrarmos das inúmeras personagens que Berta trouxe à vida, cada uma com sua nuance, cada uma com seu brilho, cada uma com sua mensagem única. Ela nos ensinou que a comédia pode ser ponte, pode ser cura, pode ser resistência, pode ser celebração. E, acima de tudo, seu legado nos lembra que a arte deve unir, não dividir.

Raphael Dorneles
Raphael Dornelesoutubro 24, 2025 AT 08:46

Agradeço profundamente a evocação tão detalhada dos feitos de Berta Loran; a maneira como enfatizou seu impacto técnico e humano realmente ressoa. É inspirador perceber que, mesmo após quase um século, seu espírito ainda nos orienta nos ensaios e nas criações. Continuaremos a honrar essa herança com o respeito que ela merece.

Silas Lima
Silas Limaoutubro 30, 2025 AT 11:10

Embora reconheça a relevância histórica mencionada, é fundamental lembrar que qualquer figura pública deve ser analisada sob a ótica da moralidade e coerência ética. Berta Loran, apesar de sua genialidade, também fez parte de um sistema que, em certos momentos, perpetuou estereótipos. Portanto, ao celebrarmos sua obra, devemos simultaneamente refletir sobre as contradições que ainda persistem em nosso cenário cultural.

Bruno Boulandet
Bruno Boulandetnovembro 5, 2025 AT 13:34

Berta Loran foi, sem sombra de dúvidas, uma das maiores artífices do humor brasileiro, e sua trajetória merece ser analisada em múltiplas dimensões. Primeiramente, sua capacidade de transitar entre o teatro de revista e a televisão demonstra uma versatilidade rara, que lhe permitiu adaptar técnicas cênicas a formatos televisivos emergentes. Em segundo lugar, ao interpretar mais de dois mil personagens, ela estabeleceu um padrão de produtividade que ainda hoje desafia os profissionais da área. Terceiramente, seu papel como Manuela D'Além Mar se tornou um ponto de referência para a linguagem popular, pois a personagem abordava questões sociais com sagacidade e leveza. Quarto, seu comprometimento com a formação de novos talentos, frequentemente orientando atores iniciantes, consolidou seu papel como mentora da nova geração. Além disso, a própria história de vida - fugindo do Holocausto, sobrevivendo ao exílio e se reinventando no Brasil - agrega um valor simbólico que transcende o entretenimento. Em quinto lugar, seu humor nunca se limitou ao riso fácil; ele sempre carregou uma crítica subjacente que incitava a reflexão. Sexto, a forma como ela ousou romper barreiras de gênero em um setor predominantemente masculino abriu portas para inúmeras mulheres no humor. Setimo, a repercussão de sua participação em programas como "Escolinha do Professor Raimundo" gerou um efeito cascata, influenciando roteiros subsequentes. Oitavo, seu legado foi reconhecido academicamente, com pesquisadores destacando sua importância para a cultura nacional. Nono, as homenagens que se seguiram à sua morte demonstram o quanto sua presença marcou a memória coletiva. Décimo, o fato de ter atuado até os 99 anos evidencia uma dedicação incomparável à arte. Décimo‑primeiro, seu discurso sobre a importância do timing e da pausa na comédia permanece como material de estudo nos cursos de artes cênicas. Décimo‑segundo, a maneira como ela incorporava diferentes sotaques e cadências regionais enriqueceram a representação da diversidade brasileira. Décimo‑terceiro, seu estilo visual, com figurinos e maquiagem que reforçavam a caricatura, tornou-se parte integrante da construção de personagens. Décimo‑quarto, a influência de sua obra pode ser observada nas gerações atuais de humoristas, que citam Berta como referência. Por fim, sua partida representa não apenas o fim de uma era, mas também um convite à renovação, ao reconhecimento de que o humor continua a evoluir a partir dos alicerces que ela ajudou a edificar.

Luara Vieira
Luara Vieiranovembro 11, 2025 AT 15:57

Ao refletir sobre a magnitude da contribuição descrita, percebo que Berta Loran transcende o mero entretenimento; ela se apresenta como um ponto de intersecção entre história, memória e ética estética. Sua jornada oferece um campo fértil para discussões filosóficas acerca da função social da comédia, do poder curativo do riso e da responsabilidade do artista perante a sociedade. Essa análise profunda nos convida a considerar como futuros criadores podem integrar essas lições em suas próprias práticas artísticas.

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