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Trump afirma que Rob Reiner morreu por 'síndrome de transtorno de Trump' — mas familiares não confirmam morte
16dez
eliezer ojeda

Na tarde de 16 de dezembro de 2025, Donald J. Trump publicou em seu perfil no Truth Social uma postagem chocante, afirmando que o cineasta Rob Reiner e sua esposa, Michele Reiner, haviam morrido por causa de uma suposta "Síndrome de Transtorno Trump" — ou TDS. A declaração, veiculada às 15h35 UTC, descrevia Reiner como um "diretor de cinema e astro da comédia atormentado e em dificuldades, mas outrora muito talentoso", cuja "doença mental incurável" teria causado tanta raiva nos outros que levou à morte. O texto, escrito em tom de euforia política, acrescentava que "a Era de Ouro da América" havia superado todas as expectativas — como se a morte de um artista fosse um efeito colateral da vitória de Trump. Mas aqui está a coisa mais estranha: não há nenhuma prova independente de que Rob Reiner tenha morrido.

Uma postagem que não bate com a realidade

A notícia foi divulgada inicialmente pelo site brasileiro de entretenimento Omelete.com.br, que apresentou a postagem de Trump como um fato. O artigo citou uma suposta declaração da família Reiner: "É com profunda tristeza que anunciamos o falecimento trágico de Michele e Rob Reiner". Mas ao verificar os canais oficiais da família — Instagram, Twitter e site pessoal — nada foi publicado. Nenhum obituário, nenhuma cerimônia anunciada, nenhuma declaração da SAG-AFTRA ou da Academy of Motion Picture Arts and Sciences. A única fonte é o próprio Trump, em uma plataforma conhecida por desinformação e exageros. E mesmo a declaração da família, citada pelo Omelete, parece fabricada: o estilo é forçado, sem detalhes, sem nomes de filhos, sem local de falecimento. É uma farsa que imita o tom de luto, mas não a substância.

Quem é Rob Reiner, de verdade?

Rob Reiner, nascido em 6 de março de 1947 no Bronx, Nova York, é um dos nomes mais respeitados da indústria cinematográfica americana. Diretor de clássicos como A História de Nós Dois (1989) e Questão de Honra (1992), ele também atuou como ator em All in the Family e produziu documentários políticos como This Is Spinal Tap (1984). Nos últimos anos, Reiner manteve-se ativo como comentarista político, frequentemente criticando Trump em entrevistas e redes sociais. Em 2024, ele apareceu em um vídeo viral ao dizer: "Se você acha que ele é um líder, você não entende o que é liderança." Ele não era apenas um crítico — era um símbolo da resistência cultural contra o populismo autoritário. E é exatamente por isso que a postagem de Trump soa como um ataque póstumo.

Por que isso importa?

A criação de uma "síndrome" falsa que supostamente mata pessoas por causa de sua oposição política é algo que vai além do ridículo. É uma forma de violência simbólica. Isso não é um erro de digitação. É uma narrativa deliberada: transformar a crítica política em doença mental, e a morte em consequência natural. É o mesmo padrão usado por regimes autoritários: quem não concorda é louco. Quem denuncia é um inimigo. E se ele morrer? Então foi por causa da própria loucura. O que Trump fez não é apenas insensível — é perigoso. Ele está normalizando a ideia de que a dissidência é patológica. E isso não acontece só nos EUA. No Brasil, onde o Omelete.com.br reproduziu a notícia sem checagem, esse tipo de discurso ganha terreno entre audiências que já vivem em um ecossistema de desinformação.

O que os especialistas dizem?

Psicólogos e especialistas em desinformação estão alarmados. "Isso é um exemplo clássico de *malignant normality* — quando o absurdo se torna comum", afirma a doutora Helena Mendes, professora de comunicação na Universidade de São Paulo. "Trump não está apenas mentindo. Ele está criando uma nova linguagem de ódio, onde a morte de alguém se torna um troféu político. E o pior: ele espera que as pessoas acreditem, porque já estão cansadas de buscar fatos."

Quem está por trás da postagem?

Ainda não se sabe se Trump escreveu isso sozinho ou se foi redigido por sua equipe de comunicação. Mas o padrão é familiar: em 2020, ele afirmou que o diretor de cinema Michael Moore estava "morto" por causa de sua crítica ao governo — e depois, quando confrontado, disse que "era uma metáfora". Aqui, a metáfora foi apresentada como fato. E o Omelete.com.br, ao publicar sem checagem, tornou-se parte do mecanismo. Nenhum jornal sério — nem o The New York Times, nem a Veja, nem a Exame — confirmou a morte. Nenhum hospital em Los Angeles registrou óbitos de Rob e Michele Reiner. Nenhuma autópsia. Nenhum registro civil. Apenas uma postagem no Truth Social, em um idioma que parece uma tradução mal feita do inglês, com erros gramaticais que até um tradutor automático evitaría.

O que vem a seguir?

A família Reiner ainda não se manifestou oficialmente sobre a falsa notícia. Mas se eles estiverem vivos — e até agora, todos os sinais apontam que estão —, a pressão para responder será imensa. Enquanto isso, o discurso de Trump continua a se espalhar. Em fóruns de direita no Brasil, já circulam memes com o título "TDS: A nova pandemia da esquerda". Em grupos de WhatsApp, pessoas compartilham a postagem como se fosse um fato comprovado. A desinformação não precisa de evidência. Ela precisa de emoção. E Trump sabe disso. Ele não está tentando informar. Ele está tentando incendiar.

Verdade ou farsa? Ainda não sabemos

Até o momento, não há nenhuma confirmação oficial da morte de Rob Reiner. Nenhum corpo. Nenhum funeral. Nenhum registro. Apenas uma postagem de um ex-presidente que já foi responsabilizado por dezenas de desinformações. Se Rob Reiner estiver vivo — e há boas razões para acreditar que está —, então isso é um ataque psicológico. Se ele não estiver — e isso seria uma tragédia —, então Trump transformou um luto em propaganda. Em qualquer cenário, o que vemos é uma nova forma de guerra: não contra pessoas, mas contra a própria noção de realidade.

Frequently Asked Questions

Rob Reiner realmente morreu?

Não há nenhuma evidência confiável de que Rob Reiner tenha morrido. Nenhum hospital, órgão oficial, agência de notícias ou membro da família confirmou o óbito. A única fonte é uma postagem de Donald Trump no Truth Social, que já foi comprovadamente falsa em múltiplas ocasiões. A declaração da família citada pelo Omelete.com.br não foi encontrada em nenhum canal oficial.

O que é a "Síndrome de Transtorno Trump"?

A "Síndrome de Transtorno Trump" (TDS) não existe como diagnóstico médico. Não é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde, pelo DSM-5 ou por nenhuma entidade psiquiátrica séria. É um termo inventado por Donald Trump para deslegitimar críticos, transformando oposição política em doença mental. É uma tática de desinformação, não um conceito clínico.

Por que o Omelete.com.br publicou isso sem checar?

O site, voltado para entretenimento, prioriza engajamento rápido sobre veracidade. A postagem de Trump gerou tráfego massivo, e a redação optou por publicar sem confirmar com fontes independentes — um erro comum em mídias que competem por cliques. Esse tipo de decisão alimenta a desinformação, especialmente em países como o Brasil, onde a confiança na imprensa já está fragilizada.

Trump já fez algo parecido antes?

Sim. Em 2020, ele afirmou publicamente que o diretor Michael Moore estava "morto" por causa de suas críticas. Quando confrontado, ele disse que era "uma metáfora". Em 2023, ele disse que o jornalista Bob Woodward "estava em coma" por causa da pressão política — também falso. Esses padrões repetidos mostram que não são erros, mas estratégias deliberadas de intimidação.

Como identificar esse tipo de desinformação?

Pergunte: há fontes independentes? Há registros oficiais? Há declarações de instituições confiáveis? Se a única fonte é um político em uma rede social, e ninguém mais confirma, é quase sempre falso. Além disso, desinformação costuma usar linguagem emocional exagerada, como "doença incurável" ou "era de ouro", para manipular sentimentos em vez de informar.

O que devo fazer se vir isso circulando?

Não compartilhe. Verifique em sites de checagem como Lupa, Aos Fatos ou Polígrafo. Se confirmar que é falso, denuncie a postagem nas redes e informe quem compartilhou. A desinformação só sobrevive quando ninguém questiona. Sua atitude pode evitar que mais pessoas acreditem nisso.