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Cruzeiro x São Paulo: falta desviada de Matheus Pereira dá vitória e mantém Raposa no G4
31ago
eliezer ojeda

Cruzeiro 1x0 São Paulo: a noite em que a bola parada resolveu

Por eliezer

Uma falta desviada, um estádio em pé e um jogo pesado de campeonato decidido em um detalhe. O Cruzeiro venceu o São Paulo por 1 a 0 no Mineirão, pela 22ª rodada do Brasileirão, graças ao chute de Matheus Pereira que beijou a barreira, enganou Rafael e parou no fundo da rede. Foi o tipo de duelo que mexe com a parte de cima da tabela e testa nervos, organização e banco.

O roteiro teve de tudo: um São Paulo com mais posse e volume, um Rafael iluminado, um Cruzeiro paciente e clínico, e um gol que nasceu da insistência e da leitura de jogo. Em casa, a Raposa soube sofrer quando precisou e aproveitou a brecha quando apareceu. Em jogos assim, a margem é mínima. E quem erra menos, leva.

O primeiro tempo foi do São Paulo em território e circulação. A equipe de Hernán Crespo montou a saída com três zagueiros — Ferraresi, Alan Franco e Sabino —, alas bem abertos e um meio que se aproximava rápido da bola. Cedric dava profundidade pelo lado direito, Patryck juntava por dentro para criar superioridade, e Luciano puxava o jogo entre linhas para conectar Ferreirinha. Funcionou para controlar o ritmo e empurrar o Cruzeiro, mas faltou transformar domínio em chances claras.

Do outro lado, Leonardo Jardim armou um Cruzeiro compacto, em bloco médio, com Lucas Romero e Lucas Silva protegendo a frente da zaga e Matheus Pereira livre para achar espaços. Kaio Jorge se mexia para tirar a referência dos zagueiros, Wanderson ameaçava em diagonais, e Kaiki aparecia no apoio pela esquerda. O plano era simples: fechar a área, negar o passe entre linhas e acelerar as transições quando roubasse a bola.

Logo cedo, Rafael mostrou por que seria um dos nomes da noite. Espalmou batida de média distância de Matheus Pereira, saiu rápido para abafar Kaiki e segurou firme um chute cruzado de Wanderson. O Cruzeiro apareceu menos, mas quando apareceu, apareceu para finalizar. O São Paulo rondou bastante, tentou de fora com Bobadilla e buscou infiltração com Rodriguinho, que alternava entre meia e segundo volante para dar mais passe por dentro.

Sem algumas peças importantes, Crespo priorizou a fluidez. Pablo Maia foi o metrônomo, girando o jogo e chamando Ferraresi para progredir. Luciano se desgastou para tirar os volantes celestes do conforto, Ferreirinha ganhou duelos no um contra um, porém esbarrou na boa cobertura de Fabrício Bruno e Villalba, sólidos pelo alto e rápidos no chão. Cássio, seguro, controlou a área e moldou o time na voz — postura de veterano em noite grande.

Veio o segundo tempo, e o ritmo mudou. O Cruzeiro adiantou um pouco a linha de marcação para cortar a construção são-paulina ainda no campo de ataque. Com o jogo mais partido, cada transição parecia um match point. Matheus Henrique e Lucas Romero leram melhor as segundas bolas, e a Raposa começou a pisar mais na intermediária.

Aos 18 minutos, a jogada que decidiu tudo. Falta na meia-lua, frontal, na distância do camisa 10. Matheus Pereira respirou, bateu firme, a bola raspou em Alan Franco na barreira e tirou completamente o goleiro da jogada. Rafael já tinha dado o passo para o canto original. O desvio mudou o rumo e o destino do lance. Rede balançando, Mineirão explodindo.

O gol mexeu com as duas equipes. O São Paulo avançou as linhas, trouxe ainda mais gente para o campo ofensivo e buscou o empate na insistência. O Cruzeiro respondeu esfriando o jogo, valorizando a posse quando dava e matando a velocidade das jogadas com faltas táticas no meio. Lucas Silva, pendurado, foi cirúrgico nos duelos, e Lucas Romero protegeu a área como uma sombra dos zagueiros.

Rafael ainda evitou que o placar ficasse mais largo. Salvou chute de Matheus Pereira em contra-ataque, defendeu finalização de Gabigol cara a cara após passe esticado e desviou com o pé uma batida cruzada de Kaiki. O goleiro foi o melhor do São Paulo, e não é exagero dizer que manteve o time vivo até o apito final.

Jardim mexeu no tempo certo. Colocou Kauã Prates para refrescar o meio e encurtar os espaços, soltou Sinisterra para puxar contra-ataques, acionou Eduardo para ajudar a recompor o lado e lançou Gabigol para segurar os zagueiros e dar profundidade. A ideia era tirar a pressão da primeira bola e ameaçar no espaço vazio. Funcionou o suficiente para empurrar o São Paulo para trás nos minutos mais críticos.

Do lado tricolor, Crespo tentou todas as chaves. Henrique entrou para dar mais chegada de área e chute, Wendell abriu o corredor esquerdo para cruzamentos, Dinenno trouxe presença de centroavante com choque e pivô, e Tapia ofereceu perna fresca para manter a pressão. O time alternou um 3-4-3 com bola e um 4-2-4 na reta final, criando situações de cruzamento e segunda bola. Faltou o último toque.

Taticamente, o Cruzeiro venceu nos detalhes. Fechou o funil central, afastou o São Paulo para as laterais e ganhou a maioria das bolas pelo alto dentro da área. Fabrício Bruno e Villalba dominaram a zona do ponto penal. William foi disciplinado no duelo com Ferreirinha, raramente oferecendo o drible por dentro. Kaiki administrou o setor com boa leitura — subiu quando dava, travou quando precisava.

Nas individualidades, Matheus Pereira foi o cérebro e o braço. Ligou o time, acelerou a jogada certa, cadenciou quando precisou e decidiu na bola parada. Lucas Romero fez partida de capitão silencioso. Lucas Silva, mesmo com amarelo, manteve o trilho. Kaio Jorge se doou nos movimentos sem bola. No São Paulo, Rafael foi decisivo, Luciano lutou em cada dividida e Ferreirinha levou perigo pela esquerda, ainda que sem o passe final.

Em números de jogo, o São Paulo terminou com mais posse e mais finalizações, mas o Cruzeiro produziu chances de maior qualidade. O x da questão foi eficiência. A Raposa precisou de menos para fazer mais. E em Brasileirão, isso pesa demais.

A arbitragem de Anderson Daronco foi firme, com critério constante nos contatos e nos cartões. O lance do gol não ofereceu margem para discussão: falta clara, batida direta, desvio casual na barreira. O VAR, com Wagner Reway, praticamente não apareceu — sinal de jogo bem conduzido e sem lances capitais duvidosos.

Na tabela, a vitória tem tamanho de confronto direto. O Cruzeiro já ocupava o pelotão de cima e precisava pontuar em casa para seguir no G4 e se manter na conversa do título. Conseguiu. Além dos três pontos, levou confiança e uma mensagem: sabe ganhar jogo grande quando o roteiro pede frieza. Para o São Paulo, a atuação dá munição para seguir competitivo. Mesmo com desfalques, controlou o jogo por longos períodos. Saiu sem pontos porque faltou contundência no último terço.

O ambiente no Mineirão também contou. A torcida ajudou a empurrar o time nos momentos em que o São Paulo encaixou a pressão. Após o gol, o estádio vibrou em cada bote, cada desarme e cada defesa de Cássio. No apito final, aplausos para Matheus Pereira e o coro para o goleiro veterano, que virou referência de liderança em pouco tempo de casa.

O recado esportivo fica claro: jogos grandes se resolvem na eficiência e nas microdecisões. Jardim venceu o duelo no tabuleiro escolhendo bem as trocas e controlando o espaço onde o São Paulo gosta de machucar. Crespo montou um time que se impôs, mas que ainda precisa transformar volume em gol com mais frequência.

Em um Brasileirão tão ajustado, uma noite como esta movimenta a disputa pelo topo e deixa cicatriz na tabela. O Cruzeiro abre uma sequência com moral e casca. O São Paulo volta com lições para ajustar o último passe e o ataque posicional. E o campeonato ganha mais um capítulo decidido na bola parada — parte do jogo que, cada vez mais, define título e vaga no fim do ano.

Para quem acompanha o campeonato semana a semana, o clássico interestadual entregou competitividade e história. Um gol de falta desviado no segundo tempo, um goleiro em noite quente, uma equipe que soube sofrer e outra que não soube punir. É o tipo de partida que todo mundo lembra quando olha a classificação lá na frente e pensa: aqui estava um jogo de seis pontos.

Ah, e para quem gosta de olhar além do placar, vale a comparação direta: o São Paulo criou mais, mas o Cruzeiro teve as melhores chances, e isso muda tudo. Sob pressão, a Raposa preservou a vantagem com maturidade. Sob ansiedade, o Tricolor perdeu a pressa e caiu no cerco celeste.

Análise, destaques e próximos passos

Análise, destaques e próximos passos

O desenho tático ajudou a explicar o resultado. O Cruzeiro, no 4-2-3-1, preencheu o corredor central e empurrou o adversário para cruzamentos previsíveis. O São Paulo, no 3-4-3, foi dominante na posse e na circulação, mas com dificuldade para romper dentro da área. Quando a pequena margem apareceu, a bola parada decidiu.

Nos minutos finais, o jogo virou duelo de nervos. O São Paulo insistiu nos cruzamentos e segundas bolas com Dinenno. O Cruzeiro respondeu com experiência, travando o ritmo, tirando a pressa do rival e mantendo a estrutura até o fim. Não foi brilhante. Foi eficiente. Numa corrida longa como o Brasileirão, isso vale ouro.

  • Cruzeiro x São Paulo — Brasileirão 2025, 22ª rodada, Mineirão: vitória celeste por 1 a 0 (gol de Matheus Pereira, 18’ do 2º tempo, em falta desviada).
  • Arbitragem: Anderson Daronco (RS); assistentes Rafael da Silva Alves e Maurício Coelho Silva Penna; VAR: Wagner Reway (SC).
  • Cartões amarelos: Luciano, Patryck, Bobadilla e Rodriguinho (São Paulo); Villalba e Lucas Silva (Cruzeiro).
  • Destaques individuais: Rafael (SP) com defesas decisivas; Matheus Pereira (CRU) como líder técnico e autor do gol; Fabrício Bruno e Villalba seguros pelo alto; Lucas Romero intenso na proteção.

Escalações e trocas, como foram a campo e por que mexeram:

  • São Paulo (Hernán Crespo): Rafael; Ferraresi, Alan Franco e Sabino; Cédric, Pablo Maia, Bobadilla, Rodriguinho e Patryck; Luciano e Ferreirinha. Entraram: Henrique (Pablo Maia), Wendell (Patryck), Dinenno (Luciano) e Tapia (Ferreirinha). Ideia: manter posse alta, abrir o campo com alas e buscar o 3 contra 2 nas laterais.
  • Cruzeiro (Leonardo Jardim): Cássio; William, Fabrício Bruno, Villalba e Kaiki; Lucas Silva, Lucas Romero e Matheus Henrique; Matheus Pereira, Wanderson e Kaio Jorge. Entraram: Kauã Prates (Lucas Silva), Sinisterra (Matheus Henrique), Eduardo (Wanderson) e Gabigol (Kaio Jorge). Ideia: fechar o meio, acelerar transições e usar a bola parada.

Em termos de calendário, os dois times encaram semanas cheias e viagens, com pouco tempo para treinar e muito para recuperar. Gerir desgaste, principalmente dos jogadores que mais correm e batem escanteio, vira parte do jogo. A eficiência de hoje costuma ser a diferença amanhã, quando as pernas pesam.

Se o torcedor cruzeirense saiu com a sensação de time maduro, faz sentido. O time soube ler o momento, segurou a ansiedade quando não tinha a bola e explorou o golpe certo quando teve. Se o são-paulino volta frustrado, também é compreensível. O time construiu, chegou, mas não matou. No fim, a tabela não pergunta como. Só registra quem pontuou.

O Brasileirão segue apertado no topo. Cada confronto direto vira encruzilhada. O Cruzeiro somou três pontos que podem virar vantagem na reta final. O São Paulo mostrou que tem jogo para brigar lá em cima, mas precisa calibrar o último passe e a presença na área. O resto, em um campeonato desse tamanho, a temporada se encarrega de contar.

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