A divulgação dos resultados do Bradesco (BBDC4) referentes ao terceiro trimestre de 2024 trouxe uma combinação de sinais positivos e preocupações. O banco reportou um crescimento de 13% em seu lucro, superando levemente a expectativa da Bloomberg, que era de R$ 5 bilhões. No entanto, a reação do mercado foi menos favorável, com as ações do banco registrando uma queda significativa de mais de 4% logo após a divulgação dos resultados, e posteriormente uma retração de 3,33% ao meio-dia.
Os resultados divulgados incluíram uma queda nas provisões para inadimplência e indicadores de inadimplência controlada, além de um avanço na carteira de crédito para R$ 943 bilhões. Além disso, houve um aumento de 4% nas despesas operacionais. Enquanto esses indicadores poderiam sugerir um desempenho positivo, o mercado pareceu preocupado com o cenário macroeconômico que o banco enfrenta.
Analisando os resultados, especialistas destacaram que o verdadeiro desafio não está na operação do banco em si, mas no contexto econômico mais amplo. Nos últimos trimestres, o Bradesco iniciou um processo de recuperação que deu bons frutos, culminando em uma valorização significativa das ações de 24% desde seu ponto mais baixo no ano. No entanto, o cenário macroeconômico pode vir a agravar, com as expectativas de elevação da taxa Selic para além dos 12%, conforme algumas análises. O próprio Bradesco projeta que as taxas de juros podem alcançar 12,25% no ápice do ciclo econômico.
Essa perspectiva de aumento dos juros sugere que as melhorias nos indicadores do Bradesco podem demorar mais do que se antecipava. Um relatório do BTG Pactual utilizou a analogia do tempo que leva para mudar o curso de um navio transatlântico para descrever o cenário do banco, sugerindo que as mudanças irão ocorrer em pequenos passos.
Outro ponto de preocupação para os investidores foi destacado por Larissa Quaresma, da Empiricus. Ela pontuou que a performance menos otimista do banco pode ser atribuída à evolução lenta do Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE), que ficou em 12,4% no trimestre, ainda distante do custo de capital calculado em 15%. Essa discrepância implica que o valor das ações - avaliado em 1,0 vez o valor patrimonial - seja compatível apenas se o ROE fosse igual ao custo de capital.
Adicionalmente, houve palavras de cautela por parte da gestão do banco quanto aos resultados do tesouro, que embora estejam em fase de recuperação, podem não ser tão satisfatórios nos próximos trimestres à luz da alta da Selic.
A avaliação dos resultados do terceiro trimestre pelo Safra classificou-os como "neutros" para as ações do banco. Destacou-se a abordagem conservadora do Bradesco ao buscar aumentar a lucratividade sem modificar seu apetite por riscos. O banco deu prioridade a exposições colateralizadas e clientes de alta renda em financiamentos não garantidos, refletindo o compromisso de entregar resultados mais consistentes.
Esse posicionamento é particularmente importante em um ambiente macroeconômico incerto e com as novas pressões regulatórias previstas para 2025. O BTG manteve uma recomendação neutra, observando que as provisões pós-NII superaram as expectativas, embora o banco enfrente perspectivas de crescimento desafiadoras devido aos altos custos dos juros e spreads mais estreitos nos empréstimos.
Os analistas do Safra e Itaú BBA mantiveram uma recomendação de compra, afirmando que os resultados do terceiro trimestre não devem levar a revisões de lucro e que a performance das ações permanece superior. Para Pedro Dietrich da Ativa Investimentos, o foco do mercado esteve fortemente na margem financeira ao cliente, que teve uma recuperação modesta, crescendo apenas 2% no trimestre e caindo 1% ano a ano, sinalizando uma reprecificação lenta em linhas com spreads maiores.
Por fim, a XP também destacou que a NII ao cliente teve uma recuperação mais modesta, refletindo essa reprecificação lenta, e observou que os indicadores de qualidade de crédito continuam a melhorar, embora de maneira mais gradual do que era desejado.
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